Dobradura tão perfeita, o origami parecia uma flor real. Ou seria o inverso? Flor natural que de tão perfeita não poderia resultar do acaso, mas tão somente ser dobradura dos dedos de alguém? Dedos nas dobras, línguas que selam o destino, tempos de mudanças.
A menina que se desdobrava se queria borboleta, lépida, porém se fez mariposa e voou noite adentro, para longe da estrela e do tempo, para de lá mandar notícias de desalento.
Contrabandista de corações, em cada partida levava mais um pedacinho. Na madrugada, no entanto, voltava sorrateira. Não contente com o que já levara, tomava também alegria e esperança, deixando apenas tristeza e irritação, para devolvê-las, revolvê-las, na volta de uma frase.
Inconstância constante, isso é o que resta, restos de lençóis, toalhas, cheiros e pêlos, gotas de sangue, dobraduras flexíveis que conjugaram tempo e estrela numa flor que se dobrou sobre si mesma.
Flor fugidia, escoou paixões, irrompeu-se em cacos e fragmentos, reações sanguíneas. Idas e voltas, retornou ao ponto de partida sem sair da roda viva onde revolvia-se, roedora desatinada.
No fim, tudo se recobra e redobra, amores não sentidos, paixões fugazes, dúvidas recorrentes, inseguranças contínuas, quebras de confiança. Montanhas (ou seriam roletas?) russas, melhor parar, ou acelerar? Descarrilou-se.